Mais um Paulo Sousa?

Duas semanas atrás, após a derrota da Supercopa, escrevi que o Flamengo precisava se rearranjar para a disputa do Mundial de Clubes, a principal competição deste início de temporada. Não houve ajuste, e dessa forma eu peço por uma mudança completa de rota com um novo foco: Recopa Sul-americana. Com jogo de ida programado para semana que vem (dia 21) e de volta na semana seguinte (dia 28), o adversário é o Independiente del Valle, mesmo adversário da Recopa lá
de 2020.

Na partida de volta daquela competição, foram a campo como titular 7 jogadores que ainda estão no elenco atual: Filipe Luís, Léo Pereira, Gerson, Everton Ribeiro,
Arrascaeta, Gabigol e Pedro. Mesmo com a expulsão de Willian Arão aos 23 minutos do primeiro tempo, que forçou a entrada prematura de Thiago Maia no lugar de Pedro, vencemos o Del Valle de maneira contundente com um 3×0 marcante. Mas por que detalhei tanto sobre esse jogo? Por causa dos problemas atuais do time.

Se insiste tanto que não há ajuda dos homens de frente na marcação (fato verdadeiro), que a linha mais avançada não dá o devido suporte, mas os 5 homens mais avançados do Flamengo naquela partida foram os mesmos que começaram contra o Al-Hilal no Mundial. O que mudou? Os jogadores pioraram? Ficaram mais desleixados? Ou os técnicos têm convicções diferentes? Fato é: algo mudou.

Entendo que seja pouco tempo de trabalho para julgar de forma sinuosa o Vítor Pereira, mas a presença de tantas competições nesse início de temporada se faz necessário o julgamento. Importante lembrar: o erro não é dele. Quem estabeleceu férias tão longas para o elenco não foi Vítor Pereira. Quem contratou um técnico com filosofia de jogo que até agora não deu certo no Flamengo não foi Vítor Pereira.

A culpa é de quem dispensou o técnico anterior campeão de tudo mesmo com tal situação caótica de campeonatos para o Flamengo neste começo de 2023. Mas a situação é essa e não adianta reclamar, temos que lidar com ela. No começo de 2022, Vítor Pereira também viveu situação complicada no Corinthians.

Eliminado precocemente no Paulista e perdendo alguns clássicos, VP não teve vida fácil, muito porque tentava impor um esquema de jogo para um time que ele mesmo qualificou como limitado para tal prática. Porém o técnico soube se adaptar, propondo um jogo mais reativo do que desejava, levando o Corinthians a um vice da Copa do Brasil e ao 4º lugar do Brasileirão (acima do Flamengo). Assim, se ano passado ele conseguiu mudar o estilo do time para se adaptar ao elenco, creio que ele consiga o mesmo esse ano com o Flamengo.

Não pelas limitações técnicas, já que isso não me parece problema na Gávea, mas sim pela capacidade criativa dos homens de frente. Dos últimos técnicos rubro-negros, Vítor Pereira é de longe o que chega com melhor currículo, com conquistas importantes no segundo escalão da Europa e um pouco de experiência no futebol brasileiro. Assim, peço para ele, se quiser se manter no cargo por mais tempo, precisa esquecer suas convicções e mudar o padrão de jogo.

O adversário não pode ser subestimado como foi o Al-Hilal no Mundial, ainda mais que o Del Valle acabou de ganhar a Supercopa do Equador com um sonoro 3×0. Conquistar a Recopa (e posteriormente o Carioca) é indispensável para Vítor Pereira não ser apenas mais um Paulo Sousa na trajetória vitoriosa do rubronegro, como um português de muitas ideias mas pouca ação.